Textos de Bernardo

Poema com Fome

poesia
  coisa
que se alimenta
de si mesma
  e a mim
com gosto de
danoninho
  aos sete anos de idade

master blender

elas voltaram
as palavras voltaram
servidas por garçons que não conhecia
numa temperatura ambiente
em seu malte puro
com três cubos de gelo
e três sorrisos acompanhando

Folia

por um ano
te amo
durmo de conchinha
com você
solidão
beijos na nuca
afagos
coisa e tal

te amo sim
mas só por um ano
depois do carnaval

Lapa

Trôpega Lapa,
sinto-me imerso dentro
desses corpos tortos
encontrando-me em mim mesmo.

Sonora Lapa,
você que já não rima mais
em nenhum samba canção
quando a luz do poste apaga.

Catedrática Lapa,
aprende-se física nas tuas ruas
na ação-reação do cassetete
para dois corpos ocupando o mesmo lugar.

Real Lapa,
toda sua poesia jogada, perdida.
Uma delas passa correndo
levando embora um celular e um encontro.

Viva Lapa,
essa que sempre furta
uma lapa de mim pela noite e a deixa
sob seus arcos feito oferenda.

Querida Lapa,
como é bom o reencontro,
como é bom estar em casa e
deitar na tua cama.

Ás Zero Horas

Todo dia
às zero horas
reaprendo a lição:
  é fácil ser solar e
  digerir o dia exposto
  por aquela luz fertilizante,
  astro rei de súditos mecânicos.
  Agora, para a noite,
  bem, para a noite é preciso ter
  estômago e coragem,
  é preciso saber enxergar na penumbra
  os detalhes nus
  onde para os olhos desavisados
  só existe
  o todo negro e escuro.
  Para noite é preciso saber ler
    nas entrelinhas.