Textos de Bernardo

rolezinho

volto de uma das minhas voltas de skate de madrugada.
furei todos os sinais vermelhos esperando um choque na contra-mão.
estava ouvindo um rock qualquer.
os carros não vieram.
vieram só uns power chords
e meu grito.

Versos Ímpares

nas métricas dessas vidas
por entre versos
entre você e ele
  e eu
  
sempre há de se ver
algum de nós
  sozinho

como uma pequena estrofe
  faminta
  
  perdida
  
ímpar

Passo olho, passa hora

O tempo passa
  para esse navio cruzando a baía.

O tempo passa
  nessa canção que está pra acabar.

O tempo passa
  página a página do caderno novo.

O tempo passa
  para o rapaz a correr pela areia.

O tempo só não passa
lá em casa
com o relógio da cozinha
parado
sem pilha sem vontade
marcando a hora de um tempo
passado
teu.

Maria

Por favor, alguém me faz entender,
quanto barulho pode fazer
um pequeno pé de feijão?

Mesmo só semente
já a imaginamos árvore
nos levando a crescer
acerca de si mesma,
colhendo os frutos de suas descobertas.
Pau-brasil, jacarandá ou bambuzal do Anchieta
é o que queremos ter em vida,
  em sua vida
  pequena e já tão grande,
sem nenhum risco de extinção.

O pai e o Fluminense,
a mãe e o Fluminense,
ela e, inexoravelmente, o Fluminense.
Os tios e os sorrisos bobos
em troca dos seus sorrisos bobos
fazendo-os perceber o quão a vida é tão boba.

Avós são as pitadas de açúcar
confeitando mais uma maria mole
embalada em braços, por vez, delas.
Os três avôs, tons descompromissados
necessários a toda criança
crescida nessas casas.

Maria ainda virgem,
por sempre imaculada,
já por sonhos embalada
para por fim às vertigens.

Por favor, alguém me faz entender,
quanto barulho pode fazer
um pequeno pé de feijão
aqui no meu coração?

Fim do Mar

A cor do fim do mar
era branco marfim.
A areia toda feita
de balas de festim.
A onda que dobrava
era a asa de um querubim.
O vento de lá tocava
um choro de botequim.
Não tinha um quê de sol
nem da índia tupiniquim.

Afundei o grande mar,
mar gigante sem mim.