Textos de Luciano

perdido entre vênus e marte

abraçado ao vazio e a sua imensidão
tenho dificuldades de sentir meus pés na terra

ela é árida demais
de sentimento
ela é úmida demais
de tesão e castidade

no mundo em que estou, nesse, dos outros,
nada me apetece
nem vênus
nem marte

mesmo assim eu
sinto fome
de carne fresca
de suores noturnos

meu corpo não consegue conceber
a eternidade do espaço
e não se conforma com sua prisão
entre duas tão diferentes órbitas

vou me perder entre as estrelas

buscar constantemente
a felicidade me cansa

despido
deixo minha armadura e
me banho em seu rio de águas mornas

sem vontade e coragem de sair
o dia me despe
de suas luzes

sob as estrelas
ribeirinhas
as sombras me curam da compulsão
da busca por seu calor solar

nunca precisei buscar
o frio
agasalhado
corre em minhas veias
alheio às marés e suas luas

constante como uma chama
eterno quanto a galáxia

rio de janeiro

minha carcaça é quente
como a de vocês

  a explicação pro suor dessa cidade
               pro calor da sua voz
               pra frieza do meu coração.

abre as asas sobre nós

me vulgarizo com uma facilidade irremediável.

faz pouco tempo que olho pra trás
  e me vejo livre
a liberdade plena e corruptora

a liberdade que permite que eu me dê pesadelos
que eu orquestre o presente com o único intuito de que ele se torne passado

que eu esqueça desse alguém
 - capitão? co-piloto? computador de bordo? -
  que vive por mim

esse cientista
  que vive por mim

a liberdade que não me abraça para não me prender.

amarro minhas mãos
  e me jogo
    ao precipício

da precisão e da necessidade

preciso
     de alguém pra poder apontar e chamar de amor.

          tenho tanto, tanto amor em mim

e a pressão do meu peito pede por um foco preciso
     de alguém pra poder apontar e chamar de amor.