Textos de Luciano

fever dream

sonhei um sonho incrivelmente detalhado
em que a gente se amava, se sorria,
se casava

  o fruto do que eu não mais plantei

no fim, abraçados, contive as palavras
que gastava, para cuidar dos votos
de um ritual mundano que nunca sonhamos ter

  não saber o que eu diria
  é o motivo da tormenta

e sem saber o que pensar do sentimento
que só tive por ser sonho, por ser triste,
fico com medo de dormir

  eu nem pensava mais em você,
  mas fico feliz, pois nesse mundo etéreo
  existe meu voto que nunca existiu.

zen - parte dois

estamos ficando velhos e cada vez mais estúpidos.
  tratamos a inconsequência como objetivo final.
  traçamos metas para podermos deixar de prosseguir.

pensa:
  se o objetivo é que nada aconteça,
    o mundo
    conspira para que o faça.
      é o que lhe dá prazer, mostrar o quanto
      sempre, eternamente, cada vez mais

  estamos errados.
  errados por conta dos nossos erros.

  é um erro não conseguir parar de pensar em você.

networking

me intoxico nas suas palavras
as que não têm sentido
até não ver mais nelas qualquer forma

sem sentir o que me constitui
incorpóreo flui
como o trabalho e os dias e o dinheiro

fico sentado a esperar o momento certo
pra te capturar, te repetir pro mundo
e perpetuar o seu desprezo

selfie

olá, meu nome e Luciano e sou poeta.

dizer isso é soar pretensioso
quase que instantaneamente
e você logo pensa que
  não sou grande coisa
  falo isso pra me engrandecer

    e, nesse caso, tem toda a razão.

a diferença é que sou sincero.
manipulo com vontade minhas palavras falsas
mal usadas
sinceramente.

não sou poeta por falta do que fazer,
essa é a minha forma de parecer maior
sem fazer biquinho.

shiver

amiga
  o tempo passou e ainda brota em cada canto
  seu nome
    em tinta colorida

não falei contigo por medo
confundo facilmente amizade com convívio
e nada mais devo ter em comum com você

te escrevo pra dizer
  que conquistei a vida
  e que nada me importa mais

  que os problemas
  soam como sirenes
       como sereias
    aos meus ouvidos
      que não sabem mais reconhecer a sua voz

  que não sei seu endereço
  e o quanto queria poder visitar algum lugar contigo
    seja quem for
    só pra um chá
    por um inverno

  que meu propósito não existe
  e que só vivo pra te escrever
  em mais uma carta