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as mortes das inocências

homens e pêlos. uma relação de maturidade. primeiro os que surgem na cabeça e trazem junto as descobertas. no primeiro andar, a primeira partida. nas primeiras palavras, as primeiras lágrimas. surgem os primeiros traços daquilo que ele será a medida com que some aquela área branca, disforme e desprotegida que declarava a inocência. os cabelos são a morte da inocência. descobrimos que existem penteados onde antes não havia nada. descobrimos a futilidade nos cabelos. depois vem o resto do corpo naquela sensação desconfortável de enfrentar o desconhecido. a sensação que morre ao descobrirmos o fracasso em nos controlarmos. a morte da inocência da eternidade. percebemos que o nosso corpo é, senão, mera ferramenta para nós mesmos. barba, cabelo e bigode a nos desafiar todos os dias perante hoje o espelho sustentando aquilo que queremos esquecer ou, no mínimo, ignorar. hoje, dos seios de uma mãe negra, nasceu mais um dos guerreiros que marcham sempre ao ponto final. ele surgiu como os outros, encaracolado, teimando em machucar meus olhos e irreproduzível no que diz respeito a posições. um bastardo louvando um hino solitário e de tom diferente de seus irmãos. guardei tanto afeto por esse ser solitário, desejando que, por ventura, seu clã se multiplicasse em minha fértil lavoura capilar. tenho afeto por seres solitários e fios brancos. fios brancos talvez combinem com casas vazias, vinhos e partidas. a morte da inocência de que viveram felizes para sempre.

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