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Batons, receitas de bolo e botões vermelhos

Ontem à noite dormi com Chico me perguntando para 'onde vai o amor, quando o amor acaba'. Não deu outra, acabei sonhando com o poço dos amores, dos amores não-queridos. Todo o universo existia lá - ou existiria cedo ou mais tarde - seja projetor ou seja alvo. Romance platônico pelo professor bonito, a gostosa do bar que você comeu na madrugada quente de 2002, o amor de werther, as paixões de bovary e até seus pais, tão santos e castos lá estão, bêbedos e chorosos.
A consistência, porém, não me era viável figurar. Ora tosco e grudento, ao ponto de não ser mais desejado, ora ralo e escorregadio, da maneira que não possa se fixar na pele e em conseqüência, não ser sentido. Apesar disso, me lembro do aroma, do gosto de mar. O fundo, quando meus pés o alcançavam, se desfazia em areia movediça. Mergulhei para entender melhor e veja só, bailarinas sobreviviam com seus passos ensaiados e sapatilhas rosas. Aprendi com elas que para sobreviver naquele mundo de desprezo, era necessário leveza.
O poço era enorme, rodeado de pessoas que ainda não haviam sido tomadas pelo trauma do amor não-desejado. Estas jogavam seus bens mais apreciáveis, para 'saciar a sede dos mal-amados'. Batons, receitas de bolo, botões vermelhos, pára-raios, maçãs-verdes, de tudo era jogado para manter a paz amorosa. Um ciclo, entende?

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