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calmaria

também existe música na agulha riscando o final de um disco sem parar. aprendi a ouví-la ao me manter concentrado em tudo aquilo que não importa. consciente da existência daquilo que não precisa ser notado. aprendi a fazer-me presente assim, ocupando os espaços de minha mente entre jogos bobos com o indiferente e viagens de ônibus por uma copacabana engarrafada. tentar prever o plano de vôo da fumaça que sobe do café; replicar com a caneta no papel o caminho do pingo do suor do copo gelado de cerveja a escorrer pela borda; sorrir para o moço do ônibus vizinho. nadas que fazem com que as palavras em minha cabeça se calem. nadas que falam comigo e me ensinam lições sobre ser vão. a fumaça se desfaz, o pingo seca ou cai, eu sigo. meus pensamentos silenciam nas mortes dos nadas e, como se servindo de alimento, deixam ressurgir palavras que foram ditas em épocas que também já viraram nada. palavras desesperadas como as propagandas de vendedores de peixe em final de feira. eu sigo para aprender que a inércia do vazio da vida é onde escuto o barulho que me basta. o barulho que invento.

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