Comprimir. São Paulo não cabe em mim. É muito e transborda o outro muito que ainda sobra. Jorra pra fora uma cidade de excessos e carências assinadas pela pressa, pela estética pesada, por esse chão duro e impermeável. São Paulo não cabe nas porteiras que abri quando pequeno; para isso existem os semáforos. São Paulo não cabe nos meus "boa tarde" a desconhecidos; para isso voam as mensagens invisíveis riscando o céu da cidade; São Paulo não cabe nas minhas ruas de paralelepípedo e jogo de bola; ela se extrapola em veias abertas, em minhocões, viadutos e marginais. São Paulo não cabe no que me acostumei. Não cabe onde eu caibo. Mas, ainda assim, São Paulo cabe sim em um abraço. Cabe apertadinha em uma cama de solteiro dividida com a saudade. São Paulo cabe em despedidas, cabe em redenção. Cabe na construção de pontos finais ou início de novas frases. Cabe aqui, nesse final de caderno.
-- Bernardo