ignorando o chão
mirávamos
sempre para cima
a apostar
até também nos tornarmos
resíduos de querosene
pálidas cicatrizes brancas
um corte no azul
dois cortes
um novo tipo de céu
afetado
por futuros
até então
ignorados
pisco
quebro um dedo
perco um dente
rasgo um talo
e a vida passa
teimosa e graciosa
como um par ou
um casal de garças
plainando
por todo o resto
do que sobrou ou
daquilo que creem ver
um lago
um canal
ou um rio
todos podem
congelar
mas o coração
a despeito
do frio
queima, arde
evapora o mar
a névoa espessa sobra
da frágua que fui
a forjar novas armas
anêmicas
potências de amor
ou então só morte
em mãos de crianças
maníacas
quão cortantes são as últimas frases?
como afiar as novas primeiras?
eis o fardo de um ferreiro
além do calor:
abster-se da culpa,
das incongruências
e consequências
benzidas no vapor
buscar as suas crenças
uma a uma
com o sol de testemunha
levá-las para passear,
um banho,
sair pra pegar um ar
jóias rasas,
moças requintadas
de mãozinhas dadas
todas maquiadinhas
de certezas raras
as sirenes falharam
o barro desliza
e a ira leva
tudo
relampejam
as últimas fotos
você sem olhar pra câmera
e num instante
bum
já é ontem
uma outra realidade
agora escorregadia
suja e líquida
nos retoma
ou remonta
não sei dizer
pois ninguém mais canta
enquanto a lama seca,
a garganta endurece
e o ar se faz em peste
de pó
para o pó
ao longo do caminho
muitas serão as frases
confundidas
esquecidas em preces