éter
na beirada do mundo
eu te vi
invisível
para os métodos científicos
quintessência presente
na dança dos planetas
nos micro espaços das migalhas de pão
sob o umbral desta porta
nos desejando
boa viagem
para o meu universo
na beirada do mundo
eu te vi
invisível
para os métodos científicos
quintessência presente
na dança dos planetas
nos micro espaços das migalhas de pão
sob o umbral desta porta
nos desejando
boa viagem
para o meu universo
minha língua
minha arma
a parte que mais te convém
te agarra
te fere
chafurdo
no mangue dos pensamentos
crendo-me ardiloso
ao te cobrir com minha lama
enquanto me caçavas
com tuas mãos cegas
mergulhos silenciosos
eu, paralisado
capturado e incapaz
miro com dois olhos
teu caminhar
distante
capturado e incapaz
te miro com dois olhos
de lado
para não perder
a vista do horizonte
pensou em seus próprios novos sabores. pensou em como tem sido doce o sabor de si mesmo. pensou muito sobre aleatoriedades se desenrolando de maneiras concatenadas. até o barulho do avião que faz a ponte-aérea levando um casal qualquer para uma lua de mel no nordeste com escala no rio de janeiro interrompê-lo.
acende outro cigarro imaginário e vai trabalhar.
risos se mesclam ao ambiente.
brincam de achar padrões, de se descobrirem em timbres. mas, a medida que se conhecem musicalmente, uma aflição os contamina: qual será a próxima nota? ela rapidamente se entedia em seguir regras que desconhece - por que somente as teclas brancas se temos todas as outras? por que tamanha limitação? - e começa uma aventura perigosa pelo mundo negro dos sustenidos e bemóis. claramente aquelas andanças bicolores não soam atraentes ao mundo externo, mas, lembrem-se, aqui falamos do mundo concreto dos dois, do qual eu e você não entendemos nada de sua beleza.
respirações se mesclam ao ambiente.
ele entende cada dó sustenido fora do tempo como um convite para definir uma estrutura musical. sente-se importante, monta uma estratégia em sua cabeça e torce para que ela perceba os toques propositais do seu corpo no dela. os cotovelos e ombros sendo sempre a guiada delicada de sua mão direita, enquanto a cadência do tocar dos pés e das coxas são definidos pelo ritmo de sua mão esquerda. se embaralha com toda a coordenação motora exigida e erra por algumas vezes o tempo, mas sua parceira não percebe.
arquejos se mesclam ao ambiente.
ela percebe o mundo o suficiente para compreender os toques e desejar as mãos que os produzem. continua desobediente e, agressivamente, lança sua mão esquerda para começar compor as canções do corpo. a sua direita permanecia no piano reproduzindo um padrão de sol, lá e dó que havia encontrado a pouco. com a outra, acaricia as harpas dos cabelos dele ao mesmo tempo que as notas. eles se transformam em som. dois pares de olhos fechados em um diálogo lascivo composto de notas musicais. o volume se instaura em uma crescente, o grave se torna forte como o esperado e o agudo ganha a agilidade nos mesmos sol, lá e dó. a música sobrevive até seu último suspiro e num contratempo qualquer ela é interrompida por um prensar de várias teclas. o piano grita desafinadamente para que fiquem e silencia. uma última súplica dele, que havia ganhado afeição por aqueles dois corpos nus.
nesta tarde, aquele piano descobriu melodias que nunca pôde compor e permaneceu aberto como se as admirasse ao som ambiente.