As fotos mofam
os filmes se perdem
os cheiros azedam
os móveis mudam
todos embalados
por essa valsa do tempo.
Coisa de gente grande
sabem que o epílogo
espera logo ali
no virar daquela curva.
O sorriso cafajeste
a posição deitada vendo tv
o agarrar do copo
até a cegueira do olho esquerdo
ouvem outras músicas e
jogam ciranda com o tempo.
Crianças despreocupadas
só se interessam
pela hora do recreio e
o lanche dentro da merendeira do Batman.
São esses pequenos olhos
brilhantes
e barriguinhas
sujas de picolé
a ponte que liga
o que há de ser eterno
entre nós
dois.
Acorda, minha flor!
Desperta junto o mundo com seu perfume,
desacorda meu ser em sua essência.
Depois, nos amemos aos montes,
sem nem notar que o tempo parou,
porque o sol já desistiu de raiar
somente para admirar
o matinal desabrochar do nosso amor.
Sopra este vento sul
e traz a garoa umedecendo
meu peito aberto
por conta da camisa
do primeiro botão perdido
que você tanto gostava.
Me deixo molhar
e ventar pro norte
Uma confissão
há um arco-íris
multicromático
a cada palmo desse cinza estático
por São Paulo.
Luzes e cores
não encontradas
daltonicamente
por essa doença criada nas areias
de Copacabana.
o raio-x não detecta
na bagagem de mão
toda essa melancolia
tão perigosa quanto qualquer explosivo
o detector de metais não capta
no fundo bolso direito
esse abandono afiado
e todas suas funções de canivete suíço
se encontrassem tudo
eu simplesmente os colocaria
de muito bom grado
dentro daquele lixo
junto com tantos outros objetos
pontiagudos ou
inflamáveis