o homem do saco
roubou
toda minha vontade de conhecer
o mundo
agradeci-o com um café
ainda com a lembrança
dos teus olhos fortes
devia ter ouvido minha avó sobre
os casacos
atentado para suas crenças e folclores
perigos e alertas
sobre o homem do saco
e essas mulheres
munidas de olhares fortes
Escrevi teu nome
num grão de arroz.
Plantei teu nome
no pote de algodão,
juntinho do meu
num grão de feijão
para vingarmos juntos,
saciar essa fome
grande da saudade
de sermos nós mesmos.
para toda a pressão
do por vir
dessa manhã escura
sem vontade
brincas com pílulas
de conversas
prometes tua imagem
bem borrada
entre um café e outro
pão na chapa
conto as vezes em que te vi
como quem conta histórias da infância
da minha terra
da sua adolescência
conto as vezes em que te vi
feito carmelita nas contas de terço
em êxtase com a reza de agora
na agonia da benção da próxima prece
conto as vezes em que te vi
nesses quatro poemas vermelhos
de uma manhã cinza
sem a paz dos dias que não te conheceram
conta a única vez que te vi
reduzindo-a em aurora
espalhada em tua imagem pela manhã
por conta dos sonhos da última noite
você vira as costas
sorrindo pra me fazer esquecer
que te vi chegar
com medo de fechar a porta
Quando nasci, um anjo reto
desses de grandes auréolas
tentou me avisar: Vai, Bernardo! Respire!
Deus cortou-lhe a língua.
O anjo emudeceu e não disse nada.
Olhou-me nos olhos e
depois de meu berro romper o mundo,
lágrimas romperam-lhe a face.
Chorou mudo
lágrimas vermelhas
protegidas pela placenta.