a ausência mora nos detalhes
ligar o ar condicionado
fechar as cortinas
apagar as luzes
nessa rotina de toda noite
a ausência já fez moradia
própria
o tudo que persistiu
esse espólio de guerra
dentro de casa
é assinado pela tua falta
menos essa camisa nova
que precisei comprar
quando estraguei a que me deste
lavando-a com água sanitária
no tanque da cozinha
coleto provas de que hoje estou
vivo
essa dor no corpo
de atleta das madrugadas
esse carpete na língua
borrado das cinzas do cigarro barato
são evidências de que aqui
nesse espaço-tempo
separando a cama do banheiro
ainda existo
ainda que apático
sobrevivo
existo
zonzo com a obrigação
de começar a semana
de novo
sem seus óculos
sem meu engov
A solidão é expurgada
pelas suas unhas
cravo a cravo
espremido das minhas costas
por fim limpa.
- Doeu?
minha velocidade é constante:
três decepções
amorosas ou não
por hora
do lado de fora
é o além de nós
e cá pra dentro
moro num abraço
resultado de um
sonho dessa mão
a repousar esta
minha que treme
na ânsia em poder ver-me livre e respirar todo aquele ar carregado do seu cheiro