confessa pro padre
no pé do ouvido
do confessionário
na cama teu corpo
contato marcado
mais um funcionário
gastando caminho
no nojo amargoso
daquele salário
forjando em copos
tristes sinfonias
feito um canário
quais são suas loucuras
guardadas e castas
em teu relicário?
confessa pro padre
depois vai, volte a ser
pecador libertário
não existem as grades
do campo de são bento
muito menos os peixinhos
nada de barraca de tapioca
ou pista cimentada
com crianças andando de patins
e ralando os joelhos
a me alimentar o grande sonho
de ser pai
como há no campo de são bento
só existem as moças segurando suas saias
o silêncio suspeito da nicotina
esse sol que não quer se por
e a sombra de um homem
que não existe mais
se foi
ao evaporar e virar nuvem
para fazer-se chuva
longe, bem longe,
bem lá no campo de são bento
tuas cores estão aqui
listradas num vestido
esquecido pelo desespero
compreendido na hora
de uma passagem corrida
de uma fuga afligida
ladra de uma última
sobremesa
tuas cores estão aqui
mortas
largadas no cabide
morto
tardando a simbiose tua
na nova cidade
morta
tuas cores estão aqui
o cinza
o preto
e a tela do quadro
na parede do quarto
branca
tuas cores estão aqui
para nunca mais
da corujinha
o substantivo que dá nome
ao gosto do polvilho
aos episódios de pokémon
aos sonhos empacotados na mochila
em dias de aula de ciências
o gosto de tempos
em que não sabia o que era
tempo de
preocupação
tempos de um só desafio
chegar cedo
fugir do trabalho
de ter que pegar os outros
no pique alto
saudade
para mim
tem nome composto
gosto de doce de leite
jeito de quem cata feijão
cheiro de café forte
em uma cidadezinha do interior