Certas verdades
só se descobre caminhando
numa calçada da Lapa
no meio de travestis
às cinco e trinta da manhã
de uma terça-feira de carnaval
com um cigarro entre os dedos.
Num caminho
só e
teu
com um cigarro entre os dedos.
Certas verdades
só aprendemos
quando nos vemos
com um marlboro vermelho entre os dedos
com nada no coração.
Por entre os dedos finos
sobe essa fumaça densa
do cigarro que anuncia o porvir.
Essa onda cinza e oscilante
que ruma ao limite do céu
para tornar turva e confusa
qualquer troca de olhares.
Contidas, semi declarações
desenhadas e compreendidas
pelo fugaz desejo
de gerar mais fumaça
que assina o que vem depois.
o homem do saco
roubou
toda minha vontade de conhecer
o mundo
agradeci-o com um café
ainda com a lembrança
dos teus olhos fortes
devia ter ouvido minha avó sobre
os casacos
atentado para suas crenças e folclores
perigos e alertas
sobre o homem do saco
e essas mulheres
munidas de olhares fortes
Escrevi teu nome
num grão de arroz.
Plantei teu nome
no pote de algodão,
juntinho do meu
num grão de feijão
para vingarmos juntos,
saciar essa fome
grande da saudade
de sermos nós mesmos.
para toda a pressão
do por vir
dessa manhã escura
sem vontade
brincas com pílulas
de conversas
prometes tua imagem
bem borrada
entre um café e outro
pão na chapa