todo o barulho
antes do estilhaçar
do copo
contra a parede
todo esse barulho
gritando
para nós
calados
o estridente grito
abafado pela água
a escorrer
muda
súplica do copo
pela vida
nossas vidas
a preguiça de ter de limpar
o que há de ficar pelo chão
quando nos calarmos
por fim
ando sentimental
em tudo o que há
ausência
o tombo da criança
a voz de Cazuza sozinha
um peito vazado na noite
porta-retratos vazios
de tudo que é vivo
ninguém há de me entender
ou brincar de psicólogo
exceto as gaivotas
flertando com o mar
os ventos fortes do mar
mas eternas
amantes ternas da terra firme
hoje me despedi
do grande elefante branco
agarrei suas orelhas
abracei seu pescoço e
desfilamos pela avenida
acenando para a vida
pessoas a esperar o ônibus
não entenderam nada
vendo-me cair de costas
quebrar duas costelas e
por fim me por a chorar
de tanto gargalhar
ao perceber que no chão
só havia um pouco mais
de chão
de nada mais
a glória da minha maturidade chega tão cheia de
nada mais que o jeans em cima da cama
o resto do cigarro no cinzeiro sujo
música alta com dança lenta
banheiro de porta aberta
o lado da cama
vazio
e eu
.
confessa pro padre
no pé do ouvido
do confessionário
na cama teu corpo
contato marcado
mais um funcionário
gastando caminho
no nojo amargoso
daquele salário
forjando em copos
tristes sinfonias
feito um canário
quais são suas loucuras
guardadas e castas
em teu relicário?
confessa pro padre
depois vai, volte a ser
pecador libertário