Textos de Bernardo

evolução

hoje me despedi
do grande elefante branco
agarrei suas orelhas
abracei seu pescoço e
desfilamos pela avenida
acenando para a vida
pessoas a esperar o ônibus
não entenderam nada
vendo-me cair de costas
quebrar duas costelas e
por fim me por a chorar
de tanto gargalhar
ao perceber que no chão
só havia um pouco mais
de chão
de nada mais

conviver comigo

a glória da minha maturidade chega tão cheia de
nada mais que o jeans em cima da cama
o resto do cigarro no cinzeiro sujo
música alta com dança lenta
banheiro de porta aberta
o lado da cama
vazio
e eu
.

libertinagem

confessa pro padre
no pé do ouvido
do confessionário

na cama teu corpo
contato marcado
mais um funcionário

gastando caminho
no nojo amargoso
daquele salário

forjando em copos
tristes sinfonias
feito um canário

quais são suas loucuras
guardadas e castas
em teu relicário?

confessa pro padre
depois vai, volte a ser
pecador libertário

plaza de la constitución

não existem as grades
do campo de são bento
muito menos os peixinhos
nada de barraca de tapioca
ou pista cimentada
com crianças andando de patins
e ralando os joelhos
a me alimentar o grande sonho
de ser pai
como há no campo de são bento

só existem as moças segurando suas saias
o silêncio suspeito da nicotina
esse sol que não quer se por
e a sombra de um homem
que não existe mais
se foi
ao evaporar e virar nuvem
para fazer-se chuva
longe, bem longe,
bem lá no campo de são bento

tuas cores

tuas cores estão aqui
listradas num vestido
esquecido pelo desespero
compreendido na hora
  de uma passagem corrida
  de uma fuga afligida
ladra de uma última
sobremesa

tuas cores estão aqui
  mortas
largadas no cabide
  morto
tardando a simbiose tua
  na nova cidade
    morta

tuas cores estão aqui
  o cinza
  o preto
e a tela do quadro
    na parede do quarto
branca

tuas cores estão aqui
    para nunca mais