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Bengalas

No banco duro e frio, descansei.
À frente, o rio e seu carregar cadenciado.
Atrás, a rua e seu parar demorado.
O barulho ofensivo dos motores
ignorados por acordes e poesia.

    macrotons
    
O tempo quis seguir os compassos
marcados pelo refrão.
A água pára esperando o clímax.
A respiração, desde já afetada,
não consegue se conter
    e se contenta no contratempo.
    
Com o primeiro verso,
    a primeira lágrima.
Com a primeira lágrima,
    a última culpa.
    
Na explosão de palavras e som misturam-se
    o grito,
    o vento,
    o choro,
    o inverno,
    a cidade,
    o adeus.
Todos levados pelo rio,
algus boiando, outros tantos
    afogados de preferência.
    
Eles seguem pelas ondulações,
batem nas margens,
se confudem nas curvas,
se machucam nas quedas d'água.
Depois de tanto rolar, o encontrar
    com outros restos de alguéns.

Partem juntos e mais fortes,
abraçados em sua solidão,
aguardando a redenção,
visando o desaguar na imensidão.

E ele chega:
O mar, cemitério de amores.
O mar, a liberdade.
O mar, o fim.
Só há mar.

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