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Confetes

Já tem tempo que esse infernal processo dominical me acompanha. A maquiagem mal tirada, corpo pesado, os lábios que despertam mais vermelhos que o comum. A manhã incrivelmente longa e sem sono. Me distraio com o que posso, todas as banalidades. E encarando a parede e segurando o choro, eu percebo: a casa ainda tinha confetes. Resquícios de uma festa que nunca existiu. 'Aqui é festa amor, e a tristeza em minha vida', cantavam no palco um pouco a mais de uma semana. E eu sempre achei que essas palavras diziam tanto, mas não era verdade. Nunca houve realmente a festa, só a sujeira no dia seguinte. Os malditos confetes que continuavam grudados pela casa, mesmo com todo o esforço, toda atenção, era sempre possível encontrá-los perdidos em todos os cômodos. Confetes estes que você prometeu vir tirar, e isso nunca aconteceu. Principalmente porque eu não queria que eles sumissem. Eu gostava de encontrá-los, me dava uma motivação pra continuar. Mas a casa nunca foi só minha, e o incomodo era grande. Todo mundo dizia que não fazia sentido, que precisava tirá-los de uma vez. Eu entendia, eu concordava mas continuava insistindo. Hoje, eu tirei todos eles. Cada um. Com ajuda, claro. Por que a casa não é só minha, apesar de eu ser a única culpada por terem ficado aqui por tanto tempo. Não mais. Nunca mais.

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