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Nove Anos

Na casa de vidro
abrigamos o primeiro beijo.
Seguimos carregando-a pelas costas
com suas janelas e paredes transluzentes.

O tempo,
  sempre o tempo,
cuidou de fazer o seu papel.
  Manchas de dedos gordurosos,
  respingos de gotas de chuva,
  poeira de beira de estrada de chão
  e os trincamentos.
  
Sabíamos lavar, limpar, polir, lustrar.
As sujeiras saíam com palavras,
  mas os trincamentos...
  os trincamentos, eles não.

Os vidros trincados resistiam.
Viviam para nos lembrar das pedras tacadas.
Por vezes granito;
Por vezes barro;
Por vezes cascalho.
Por uma única vez
  paralelepípedo.
  
Sem perdão, veio o bombardeio.
Hiroshima em vidro,
Nagasaki em vida.

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