sobre as liberdades que não precisei conquistar
a última muralha democrática:
o corpo político
resiste
diferenças espalhadas
em batalhões de exércitos periféricos
aquartelados em siglas
de neologismos do eu
ainda gritam
soam as 300 falas sobre o ser
contra uma invasão bárbara
os imbecis já venceram
saqueiam o futuro
reescrevendo o passado
com piadas e falácias
se a história não existe,
só resta
o outro
mais uma reprise
do inimigo clássico
as panelas voltaram a entornar o leite
e entre mortos e feridos,
criancinhas e museus,
o homem bom, necessariamente branco,
hétero,
classe média,
ainda crê em si como a partícula divina.
o seu corpo apolítico,
sua existência apocalíptica,
ainda crê nos impostos de renda,
nas academias 24 horas,
e que a vida é justa e boa
como ela era para o seu avô,
necessariamente branco,
hétero,
classe média
a última muralha democrática sofre,
mas resiste.
em seu último bastião:
existir e ser
necessariamente livre