Cachaça Certeira

bebo a primeira cachaça...
  desce o amargor
  a indiferença
  as mesas vazias
  a mulher de vermelho no canto;

tomo a segunda dose...
  descem as palavras
  a semelhança
  as pessoas chegando
  a linda de vermelho no canto;

expurgo o terceiro trago...
  desce o riso solto
  a vizinhaça
  o cavaquinho sendo afinado
  a utopia de vermelho no canto;

entorno a quarta talagada...
  desce o cantar
  a esperança
  o samba de roda
  a perfeição de veremelho no canto;

brindo o quinto complemento com o vermelho...
  desce o calor
    muito parecido com nossas conchas
    construídas a beira mar da sua cama
  a perseverança
    do solitário prolixo
  a agonia do samba
    que não morre nunca
  o corpo dela,
    sem vermelho,
      no canto da cama;