liberdade em mim

sete silêncios
me prendiam

a voz que cria
os barulhou
um
a
um
até sobrar o maior de todos

                            eu

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quinhão

a hipocondríaca síndrome
de varandas gourmet
curando a fobia em ser assistido
por ninguéns

a segurança das lágrimas do lar
escondem um fracasso
exposto e esmagado
pelas horas do rush públicas

o pão e o vinho na santa ceia urbana
ter e possuir
garantem não mais a salvação,
mero detalhe cristão
o perdão maior numa metrópole
é exonerar-se do outro
              do roubo
              do novo
              do gozo

encarcerar-se em grades
blindar-se em vidros
resguardar-se em modas

tornar-se, enfim, propriedade e
cidadão
  - eventualmente de bem -
propriamente dito
e adquirido

              [dos lados de fora
               o eterno sonho do carnaval
               a nos velar]

sopros de lar

ilhados em silêncio,
nós dois perdidos
num mar de táxis amarelos

o emprego de navegantes
abrindo novas feridas
jorrando um sangue vivo
coagulando-se só quando em paz

a fuga
  o silêncio hemorrágico
em seu fim

nos cruzamentos dos olhares
os faróis da compreensão
se acendem e iluminam
a calmaria que nos permite velejar
por novas promessas

afluir por nosso mar
seguir às casas que inventarmos
para sempre curandeiras
de nossas dores e desejos

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toda esperança morre
na puberdade
do absurdo

feliz destino

esta metrópole
  imenso mar de novidades
tão entediante

gritos surdos
  no farfalhar das ondas
  que esconde a solidão
das ruas daqui

me rendo então
  manejo meu navio negreiro
  o convés abarrotado de fantasmas
  um feliz destino
rumo à displicência

meu corpo
  agora renegado
  de velas rasgadas
  pelo vento incessante
  das palavras não ditas
não resiste

    naufraga