Textos de Luciano

todas as manhãs de sábado

consegue ouvir os pássaros
piando na janela?

ou o arrastar das cobertas, das pernas na
cama fora de sincronia?


ouço o ranger alto
das minhas entranhas
pedindo


mais um café da manhã
contigo

a claridão e a promessa

o suor marca momentaneamente
o caminho pisado
nesse deserto diário

meu corpo árido
  de desejo
sabe a beleza
    letal
dessa forma nômade de encarar a vida

consciente e resoluto
acendo uma vela oposta
    que escuresce e cega

promessa de me manter
um pouco mais
perdido

singing softly to me

minha boca trêmula
canta aos dedos
que estalam e queimam
uma balada inaudível na chuva
lá de fora
aqui de dentro

[trêmula não de desejo
não de desespero
não de expiração;

trêmula de pensar
que um dia, quem sabe?,
você consiga ficar como está,
sozinha,
na esperança de eu ficar
sozinho
com seu olhar e seu sorriso.]

franco erro

amanhã vou estudar o
porquê de eu pensar
    tão
    mais claramente

    de luzes apagadas
    o sufoco do mundo
        Serena
        meu amor

bonde das poderosas

sou um poeta medíocre
- e quem não é?

negue se quiser
mas cada um tem seu lugar
e o meu é no meio
    da porrada
    da platéia

        assistindo o mundo
        das entranhas
        das máquinas de lavar

        enquanto você olha pra baixo
        sorrindo e sente aquele torcicolo
            recalcado