Textos de Luciano

suas asas

a mariposa segue
a luz
    incendeia

    suas asas
feche as cortinas
e conseguirá enxergar
    suas asas

        nuas
        vivas
        e sem rumo

203

você ouviu meus passos
ecoando atrás dos seus

saiu correndo
fechou a porta
abriu seu mundo
com as melancólicas vozes
do seu antigo toca-discos

cantando
ouvi sua voz abrir suas portas
mas desculpa
se meus passos
ressoavam vazios
nas escadas
indo embora

eles corriam de volta pra casa
pra abrir a janela
e fazer
das suas vozes
o hino
das suas terras
no meu mundo
ressonante.

todas as manhãs de sábado

consegue ouvir os pássaros
piando na janela?

ou o arrastar das cobertas, das pernas na
cama fora de sincronia?


ouço o ranger alto
das minhas entranhas
pedindo


mais um café da manhã
contigo

a claridão e a promessa

o suor marca momentaneamente
o caminho pisado
nesse deserto diário

meu corpo árido
  de desejo
sabe a beleza
    letal
dessa forma nômade de encarar a vida

consciente e resoluto
acendo uma vela oposta
    que escuresce e cega

promessa de me manter
um pouco mais
perdido

singing softly to me

minha boca trêmula
canta aos dedos
que estalam e queimam
uma balada inaudível na chuva
lá de fora
aqui de dentro

[trêmula não de desejo
não de desespero
não de expiração;

trêmula de pensar
que um dia, quem sabe?,
você consiga ficar como está,
sozinha,
na esperança de eu ficar
sozinho
com seu olhar e seu sorriso.]