suas asas
a mariposa segue
a luz
incendeia
suas asas
feche as cortinas
e conseguirá enxergar
suas asas
nuas
vivas
e sem rumo
a mariposa segue
a luz
incendeia
suas asas
feche as cortinas
e conseguirá enxergar
suas asas
nuas
vivas
e sem rumo
você ouviu meus passos
ecoando atrás dos seus
saiu correndo
fechou a porta
abriu seu mundo
com as melancólicas vozes
do seu antigo toca-discos
cantando
ouvi sua voz abrir suas portas
mas desculpa
se meus passos
ressoavam vazios
nas escadas
indo embora
eles corriam de volta pra casa
pra abrir a janela
e fazer
das suas vozes
o hino
das suas terras
no meu mundo
ressonante.
consegue ouvir os pássaros
piando na janela?
ou o arrastar das cobertas, das pernas na
cama fora de sincronia?
só
ouço o ranger alto
das minhas entranhas
pedindo
só
mais um café da manhã
contigo
o suor marca momentaneamente
o caminho pisado
nesse deserto diário
meu corpo árido
de desejo
sabe a beleza
letal
dessa forma nômade de encarar a vida
consciente e resoluto
acendo uma vela oposta
que escuresce e cega
promessa de me manter
um pouco mais
perdido
minha boca trêmula
canta aos dedos
que estalam e queimam
uma balada inaudível na chuva
lá de fora
aqui de dentro
[trêmula não de desejo
não de desespero
não de expiração;
trêmula de pensar
que um dia, quem sabe?,
você consiga ficar como está,
sozinha,
na esperança de eu ficar
sozinho
com seu olhar e seu sorriso.]