todas as manhãs de sábado
consegue ouvir os pássaros
piando na janela?
ou o arrastar das cobertas, das pernas na
cama fora de sincronia?
só
ouço o ranger alto
das minhas entranhas
pedindo
só
mais um café da manhã
contigo
consegue ouvir os pássaros
piando na janela?
ou o arrastar das cobertas, das pernas na
cama fora de sincronia?
só
ouço o ranger alto
das minhas entranhas
pedindo
só
mais um café da manhã
contigo
o suor marca momentaneamente
o caminho pisado
nesse deserto diário
meu corpo árido
de desejo
sabe a beleza
letal
dessa forma nômade de encarar a vida
consciente e resoluto
acendo uma vela oposta
que escuresce e cega
promessa de me manter
um pouco mais
perdido
minha boca trêmula
canta aos dedos
que estalam e queimam
uma balada inaudível na chuva
lá de fora
aqui de dentro
[trêmula não de desejo
não de desespero
não de expiração;
trêmula de pensar
que um dia, quem sabe?,
você consiga ficar como está,
sozinha,
na esperança de eu ficar
sozinho
com seu olhar e seu sorriso.]
amanhã vou estudar o
porquê de eu pensar
tão
mais claramente
de luzes apagadas
o sufoco do mundo
Serena
meu amor
sou um poeta medíocre
- e quem não é?
negue se quiser
mas cada um tem seu lugar
e o meu é no meio
da porrada
da platéia
assistindo o mundo
das entranhas
das máquinas de lavar
enquanto você olha pra baixo
sorrindo e sente aquele torcicolo
recalcado