Textos de Luciano

acompanhante

um corredor
  vazio na
penumbra

um fantasma seu me
  assusta
alegra e eu

desgovernado ligo a luz
em um suspiro
nada mais é confortável e
tudo é calmo
demais pra nós
  três

vou ver

andar de madrugada pelas ruas da cidade é
tranquilo o vento que passa pela minha camisa de malha fina
arrepia
o ar limpo dessas horas me faz sentir parte de mim novamente

é de forma convicta que firmo cada passo chegando
perto de mim um canto de passarinho me alerta da
juventude que se passou
em marcha automática retorno à consciência
confusa

eu cheio de arrependimentos
e agora paro para dar valor
às consequências.

canto do leste

vou dormir
na hora em que os postes quentes
pensam
que já está na hora de dormir.

mesmo que os galos digam bom dia
que os canários digam bom dia
e até os corvos
mensageiros do sono eterno
digam bom dia
vou dormir.

mas a hora de dormir
a hora em que o interior mais ferve e queima
é a hora em que penso no seu pássaro bom-dia
a hora
em que tudo é luz

menos nos postes
e no lado de dentro das pálpebras.

pousos e decolagens

o ruído do relógio
  escondido nos rasantes de
  avião
    repete
      o quanto o tempo
    voou embora
        com você

cortinas

o primeiro respiro
depois de um trago
é sempre o mais lindo

parece que a fumaça
    a poluição
tem o efeito oposto

    livre do vício
        da vida
    a música da harmônica
    pode tocar novamente em meus ouvidos
    como um preparo à passagem
    do coração

        que dá um tempo
        e começa de novo

            - tem fogo?