Textos de Luciano

leitura da mão

preciso de tão pouco
para viver tão bem
  um solo de violão
  roupas jogadas no colchão
  um longo café, um pouco de pão
  poemas clichês e um aperto no coração.

insólito

à deriva
à beira
ao cantar
da sereia
me sinto em xangai
ou em qualquer lugar oposto
onde não me entendam
e meu paladar seja inexato
de adeuses incontidos
de outra forma
de amar
   você

secretária eletrônica

a gente fazia essa brincadeira
  deixe
    por telefone
    depois da voz grossa de meu pai
  uma música
  um verso
  um outro

não sei
quanto gastei aquelas fitas
e lps
quantas vezes ouvi
  sua voz no interfone
quantos
    adeus

nada mais me faz lembrar
como era a vida
  ao tom
    da sua voz

there there

me evita como
  quem evita um carinho

  como quem se conforma
            se deprime

- o mundo é esse e
  não tem mais volta

você não -
  me quer
  e eu te amo

anônimo

minha voz mais forte
soa dentro de mim

por mais que eu grite
ocupo tão pouco espaço

queimo menos que
a chama que esquenta
meu almoço

o que sou pros outros
só importa
    a mim
    não me importa
    nada

por ser muitos não
sou ninguém