o amor existe
e não há o que me convença do contrário
mas ele não é uma pessoa, nem um potencial,
não é tópico, trópico, nem tem um pingo de sexual.
ele existe
e se revela
como uma antiepifania que
em vez de se realizar pela repentina resposta genial
se materializa do ar ao você se propor
um momento de confusão
entre
onde termina você
e
começa todo o resto
(por favor,
entre)
se eu me deixar transparecer, me desculpa
é culpa
minha
juro que tento ser tão leve
como o sol nesse frio
seu casaco
que é quase um kimono
de pijama
eu acabo focando muito no que há de mal na vida
e perco o sorriso no desejo
de algo ruim acontecer
essa é a forma que tenho de me forçar
a reagir, me dá a mão
vamos anoitecer
uma estrela
só posso ver uma estrela no céu
a cidade
não me permite mais que isso
é no meio da noite nada mais
que um borrão,
um sorriso,
um desejo
no papel
o permanente
marco a página do livro
com o fio
do fone de ouvido
e tento fazer algo seu
mas só consigo ser tão preciso
como o fio
da navalha
pouco se sabe
sobre dizer
pouco
ser hermético
é se esconder no
pouco
que se quer e pode oferecer