quem é esse
que vive minha vida em piloto automático?
que não tem consciência ou memória
há tantos anos
me sinto
de repente
tão cheio de culpa
de tristeza
se é esse quem eu sou
quem é esse
que assina meus papéis
se finge de feliz
que engana a todos
fecha meus olhos
e me tortura
ao deixar que eu viva
três horas
da madrugada
outro dia, meus amigos disseram que
eu sempre serei fernando pessoa
a princípio
levei como um elogio
aos meus poemas
sabendo que estou longe de chegar lá
depois
como um insulto
ao meu recolhimento
minha introspecção
minha troca de faces
por fim
como um acerto
quem é esse que vive minha vida
e tranca a minha porta?
dorme bem
já faz tanto tempo que não durmo contigo
entre meus lábios,
tristeza
você foi, mas deixou a mágoa
a cicatriz
você reverbera cada vez mais como
um sonho bom
estou cansado de me perguntarem
estou feliz?
somos quase invisíveis
não precisamos de máscaras
ou dogmas
ou risos
de nós,
só a luz perdida da noite
os satélites
mas o amor é tão forte
mas o ódio é tão forte
os nossos olhos
em órbita
não conseguem medir
a força da palavra
parece que é algo íntimo
mas não é nenhum segredo
por onde meus pés andaram
com quem estiveram ou
o que vestiram
na noite
quietos assaltam a geladeira
tomam uma cerveja
e param de dançar, é o trabalho
do coração