dorme bem
já faz tanto tempo que não durmo contigo
entre meus lábios,
tristeza
você foi, mas deixou a mágoa
a cicatriz
você reverbera cada vez mais como
um sonho bom
estou cansado de me perguntarem
estou feliz?
somos quase invisíveis
não precisamos de máscaras
ou dogmas
ou risos
de nós,
só a luz perdida da noite
os satélites
mas o amor é tão forte
mas o ódio é tão forte
os nossos olhos
em órbita
não conseguem medir
a força da palavra
parece que é algo íntimo
mas não é nenhum segredo
por onde meus pés andaram
com quem estiveram ou
o que vestiram
na noite
quietos assaltam a geladeira
tomam uma cerveja
e param de dançar, é o trabalho
do coração
de certo você já sabe o que me trouxe aqui, pra beber um pouco do seu uísque e secar minhas roupas molhadas de chuva. só não sei se você nota a gravidade do meu problema.
não é tão sério quanto uma depressão, mas há no meu riso um pouco de charlatão, e nos meus abraços um tom de ironia. assim, não posso ficar, muito menos aqui, contigo. você sabe tanto quanto eu o quanto você se sente mal com a minha presença e com a minha despedida.
mas aí você tira minhas roupas e me convida pra tomar um banho contigo, e, não cabendo em mim, me rendo. e contigo compartilho o calor do chuveiro, e o frio de cairmos nus na sua cama, sem nem mesmo acender a luz ou fechar as cortinas.
eu penso que olho nos seus olhos, mas não tenho certeza. ainda é escuro quando vou embora e não sei bem quando volto. você está feliz de novo, meu lugar não é mais aqui. volto quando ouvir a distorção da sua guitarra, sempre na mesma canção - e não tente se aproximar de mim até lá. esse é o seu erro. você pode ser poeta sem mim, é só tentar.
felicidades,
você.
era uma vez uma velha
e amável senhora
ela disse
filho,
você
tem uma aura dourada
vai ser alguém muito especial
eu não me preocupo com você
vá fazer sua arquitetura
e lembre que você é
sempre
mais do que o que você faz
a mágica dela era
tanto
eu quero tornar
ela
realidade