Textos de Luciano

você pode sentir, mas não está lá

no papel
o permanente

marco a página do livro
  com o fio
    do fone de ouvido
e tento fazer algo seu
mas só consigo ser tão preciso
  como o fio
    da navalha

pânico

pouco se sabe
sobre dizer
pouco

ser hermético
é se esconder no
pouco
que se quer e pode oferecer

eu não corri embora

pelo portão barulhento
que nunca mais ouvi

o passado tem formas
inconsoláveis de bater a sua porta

não me canso de ouvir
seu ranger e bater

envolto em neblina
dos meus próprios pulmões

e a ferrugem em meus dedos
dizendo pra nunca mais voltar

ao mar

quase não reconheci seu cheiro quando
fechei meus olhos e pensei nela
prometo que é a última vez
e quase sem te ver nesse breu
da noite com a lua oculta
nas nuvens desejei lhe ver mais uma vez
nessa noite quanto tempo faz
desde a minha última visita
e agora penso nela
de olhos fechados
prometo que não lhe vejo
e é a última vez

zen

todo o ser
  de negra alma
que sempre quis ser agora
  eu sou

  e que erro!

o que quis tenho diariamente
na ponta dos dedos
nada

  é suave como uma lanterna de pedra
  acesa sob a noite e a tempestade

bebo tristeza
com o café amargo
e tudo que não consigo mais engolir