Textos de Luciano

dance dance dance

não há o que
dissolva esse aperto
no peito

já tentei me benzer
já tentei me sedar

e até dançar
  a noite inteira
    em outros corpos

mas continuo dançando
  - vai que um dia
    você deixa de ser anônimo
    pra alguém
    nessa pista de dança?

corda

a tosse dela era o meu motivo de sorrir
todos os dias a via pela janela usando
o vaso de cacto como cinzeiro

era bailarina
da minha sala

caixa de música
que embalava

meu sonho.

balada da noite

eu esperava maior desespero dessa
noite que não acaba
nunca

e não há mão de
berço que embale
essa história

porque sem
alguém a balada da
noite é vazia.

ao acordar

ela levantava suavemente,
tentando não me acordar ao
pegar os pratos e levar pra cozinha
sorrateira
mas dessa vez eu abri os olhos
pra vê-la
surpresa vestida com minha camisa de golfinhos
e a surpresa foi minha
pela violência e gentileza
de seu fantasma

acompanhante

um corredor
  vazio na
penumbra

um fantasma seu me
  assusta
alegra e eu

desgovernado ligo a luz
em um suspiro
nada mais é confortável e
tudo é calmo
demais pra nós
  três