amigo,
tamos há muito tempo separados
cada um de nós tem um destino
o tempo, quanto mais passa,
mais tornamos definidas
nossas medidas
nossas verdades
nossas maldades
nossas casas
sinto falta de sentir que sou restrito
que sou descrito nos lugares onde estou
mas somos tanto
voltemos para quando havia sentido
pra quando ainda éramos formato
quando toda palavra era canto
um lago
um canal
ou um rio
todos podem
congelar
mas o coração
a despeito
do frio
queima, arde
evapora o mar
a névoa espessa sobra
da frágua que fui
a forjar novas armas
anêmicas
potências de amor
ou então só morte
em mãos de crianças
maníacas
quão cortantes são as últimas frases?
como afiar as novas primeiras?
eis o fardo de um ferreiro
além do calor:
abster-se da culpa,
das incongruências
e consequências
benzidas no vapor
buscar as suas crenças
uma a uma
com o sol de testemunha
levá-las para passear,
um banho,
sair pra pegar um ar
jóias rasas,
moças requintadas
de mãozinhas dadas
todas maquiadinhas
de certezas raras
as sirenes falharam
o barro desliza
e a ira leva
tudo
relampejam
as últimas fotos
você sem olhar pra câmera
e num instante
bum
já é ontem
uma outra realidade
agora escorregadia
suja e líquida
nos retoma
ou remonta
não sei dizer
pois ninguém mais canta
enquanto a lama seca,
a garganta endurece
e o ar se faz em peste
de pó
para o pó
ao longo do caminho
muitas serão as frases
confundidas
esquecidas em preces