Para os que ainda vivem


Que o perdão venha enquanto houver vida
Que saibamos dizer eu te amo
Enquanto podemos falar
Enquanto podemos
Se emocionar
Que as viagens sejam intensas
Como se essas fossem a última que fizéssemos
Enquanto sangue que corre em meio a carne
Que os sorrisos e as brincadeiras sejam colocadas na mesa
Quando uma discussão começar
Que as separações...
As separações não sejam a distância
Entre o Sudeste e o Nordeste
Entre um cômodo e outro
As separações...
Que bom seria se só deixássemos para nos separar
Uns dos outros quando fossemos expostos a morte
Porque então saberíamos que não foi por coisa fútil
Foi o acaso, a vida, a poesia que
 Apesar de parecer
que terminou seu último verso
ainda continuará sendo recitada
por seus amigos
familiares
conhecidos de vista
por muitos anos e anos.
Que a poesia venha
Enquanto houver
 tímpanos
Olhos e coração
Para bater, chorar e pulsar.

[S.R.]

Prayer to Python

Programmed serpent
tell me how to
compile my dreams
In a few
Bro
ken
lines
let me taste
your poison
And see if
It really has
Antidote.

#[S.R. ~ D.A.]
#Compiled Poetry

rio de janeiro

minha carcaça é quente
como a de vocês

  a explicação pro suor dessa cidade
               pro calor da sua voz
               pra frieza do meu coração.

abre as asas sobre nós

me vulgarizo com uma facilidade irremediável.

faz pouco tempo que olho pra trás
  e me vejo livre
a liberdade plena e corruptora

a liberdade que permite que eu me dê pesadelos
que eu orquestre o presente com o único intuito de que ele se torne passado

que eu esqueça desse alguém
 - capitão? co-piloto? computador de bordo? -
  que vive por mim

esse cientista
  que vive por mim

a liberdade que não me abraça para não me prender.

amarro minhas mãos
  e me jogo
    ao precipício

despertador

hoje acordei com um texto lindo na cabeça. era sobre a minha avó. sobre uma frase que ela me falava num sonho que tive. um sonho em que ela me aconselhava. ando precisando de conselhos de avó ultimamente. um texto sobre uma resposta bonita, poética, que eu criava para respondê-la e como ela se orgulhava de mim. um texto que esqueci, sobre uma frase que minha avó me disse num sonho que esqueci. um texto sobre a voz da minha avó, que esqueci. sobre como era ouvi-la na varanda do segundo andar, enquanto esperávamos o almoço ficar pronto. um texto sobre como é esquecer o hábito de comentar a vida alheia como se nos importasse. esquecer como é estar do lado daqueles que fazem com que o alheio seja desimportante. preciso de conselhos de avó. preciso repetir pratos quando já satisfeito.

acordei para esquecer as palavras que queria vir a lembrar mais tarde, ao encarar esta página em branco.

hoje acordei com um texto lindo na cabeça. um texto para lembrar de minha avó. para despertar.