confessa pro padre
no pé do ouvido
do confessionário
na cama teu corpo
contato marcado
mais um funcionário
gastando caminho
no nojo amargoso
daquele salário
forjando em copos
tristes sinfonias
feito um canário
quais são suas loucuras
guardadas e castas
em teu relicário?
confessa pro padre
depois vai, volte a ser
pecador libertário
não existem as grades
do campo de são bento
muito menos os peixinhos
nada de barraca de tapioca
ou pista cimentada
com crianças andando de patins
e ralando os joelhos
a me alimentar o grande sonho
de ser pai
como há no campo de são bento
só existem as moças segurando suas saias
o silêncio suspeito da nicotina
esse sol que não quer se por
e a sombra de um homem
que não existe mais
se foi
ao evaporar e virar nuvem
para fazer-se chuva
longe, bem longe,
bem lá no campo de são bento
no papel
o permanente
marco a página do livro
com o fio
do fone de ouvido
e tento fazer algo seu
mas só consigo ser tão preciso
como o fio
da navalha
tuas cores estão aqui
listradas num vestido
esquecido pelo desespero
compreendido na hora
de uma passagem corrida
de uma fuga afligida
ladra de uma última
sobremesa
tuas cores estão aqui
mortas
largadas no cabide
morto
tardando a simbiose tua
na nova cidade
morta
tuas cores estão aqui
o cinza
o preto
e a tela do quadro
na parede do quarto
branca
tuas cores estão aqui
para nunca mais
pouco se sabe
sobre dizer
pouco
ser hermético
é se esconder no
pouco
que se quer e pode oferecer