você pode sentir, mas não está lá

no papel
o permanente

marco a página do livro
  com o fio
    do fone de ouvido
e tento fazer algo seu
mas só consigo ser tão preciso
  como o fio
    da navalha

tuas cores

tuas cores estão aqui
listradas num vestido
esquecido pelo desespero
compreendido na hora
  de uma passagem corrida
  de uma fuga afligida
ladra de uma última
sobremesa

tuas cores estão aqui
  mortas
largadas no cabide
  morto
tardando a simbiose tua
  na nova cidade
    morta

tuas cores estão aqui
  o cinza
  o preto
e a tela do quadro
    na parede do quarto
branca

tuas cores estão aqui
    para nunca mais

pânico

pouco se sabe
sobre dizer
pouco

ser hermético
é se esconder no
pouco
que se quer e pode oferecer

padaria e suspiros

da corujinha
  o substantivo que dá nome
ao gosto do polvilho
  aos episódios de pokémon
    aos sonhos empacotados na mochila
em dias de aula de ciências

o gosto de tempos
  em que não sabia o que era
    tempo de
  preocupação

tempos de um só desafio
chegar cedo
  fugir do trabalho
  de ter que pegar os outros
no pique alto

eu não corri embora

pelo portão barulhento
que nunca mais ouvi

o passado tem formas
inconsoláveis de bater a sua porta

não me canso de ouvir
seu ranger e bater

envolto em neblina
dos meus próprios pulmões

e a ferrugem em meus dedos
dizendo pra nunca mais voltar