todas as manhãs de sábado
consegue ouvir os pássaros
piando na janela?
ou o arrastar das cobertas, das pernas na
cama fora de sincronia?
só
ouço o ranger alto
das minhas entranhas
pedindo
só
mais um café da manhã
contigo
consegue ouvir os pássaros
piando na janela?
ou o arrastar das cobertas, das pernas na
cama fora de sincronia?
só
ouço o ranger alto
das minhas entranhas
pedindo
só
mais um café da manhã
contigo
o suor marca momentaneamente
o caminho pisado
nesse deserto diário
meu corpo árido
de desejo
sabe a beleza
letal
dessa forma nômade de encarar a vida
consciente e resoluto
acendo uma vela oposta
que escuresce e cega
promessa de me manter
um pouco mais
perdido
Sou rocha
sólida
sem vida
Afogado no teu mar
de lágrimas
de mágoas
A fase adulta é entregue pelo correio.
Nos convites de casamento,
nas contas do plano de saúde,
nas propagandas endereçadas a você
com o sobrenome escrito errado:
lá está ela para nos lembrar sua existência
cansada.
Já a maturidade,
essa não cabe em um envelope
nem possui serviço de entrega
que lide com seu peso.
minha boca trêmula
canta aos dedos
que estalam e queimam
uma balada inaudível na chuva
lá de fora
aqui de dentro
[trêmula não de desejo
não de desespero
não de expiração;
trêmula de pensar
que um dia, quem sabe?,
você consiga ficar como está,
sozinha,
na esperança de eu ficar
sozinho
com seu olhar e seu sorriso.]