supernovas e buracos negros

criar não é uma arte,
é uma consequência.

queria poder ser criativo
como as tantas estrelas que admiro durante a noite
mas dedico minha vida a lutar contra a gravidade
a carência
da minha situação
que me diz que
em vez de pó de estrelas
sou uma singularidade
sem som, nem luz
que me dê cor ou sentido, não
sou um ponto nesse inefável céu

perdido entre vênus e marte

abraçado ao vazio e a sua imensidão
tenho dificuldades de sentir meus pés na terra

ela é árida demais
de sentimento
ela é úmida demais
de tesão e castidade

no mundo em que estou, nesse, dos outros,
nada me apetece
nem vênus
nem marte

mesmo assim eu
sinto fome
de carne fresca
de suores noturnos

meu corpo não consegue conceber
a eternidade do espaço
e não se conforma com sua prisão
entre duas tão diferentes órbitas

vou me perder entre as estrelas

buscar constantemente
a felicidade me cansa

despido
deixo minha armadura e
me banho em seu rio de águas mornas

sem vontade e coragem de sair
o dia me despe
de suas luzes

sob as estrelas
ribeirinhas
as sombras me curam da compulsão
da busca por seu calor solar

nunca precisei buscar
o frio
agasalhado
corre em minhas veias
alheio às marés e suas luas

constante como uma chama
eterno quanto a galáxia

meu silêncio

fico parado. calado. quieto. observando ao redor o som que aumenta, os tons espumantes que crescem com o colarinho bravejante das cervejas que descem. ouço argumentos que poderia dizer, ideias que poderia criar, vontades que poderia ter. mas calo e olho nos olhos esperando uma brecha cinematográfica para dizer qualquer besteira, mas calo. espero passar a ânsia de me colocar, de soar esperto, e a vejo ser levada para outros mares, outros ares. suspiro me lembrando daquele samba. calo e ouço as vozes que poderia ter. simulo a risada ao entender a meia piada. simulo o tom sério a entender o meio argumento. simulo a presença enquanto sou só meio mundo. meio aqui, meio aí. carrego o respeito aos mudos por saber o esforço de falar e tento não decepcionar. olho para o copo, reflito sobre algo relevante e chego a conclusão de que nada sei além de alguns discos e umas poucas histórias sem graça que vivi. sou trivial como esta conversa. como esta noite. não quebrei braços, não fugi de casa, não tive mil amantes. só tenho que pegar um ônibus. digo qualquer besteira que passa. todos riem e me sinto bem. me sinto mais completo. definitivamente mais completo que o copo, mas calo novamente. goles me dão frases, me dão ideias, me dão mais vontades de estar em outras mesas com outros copos. penso em como estou feliz esperando o dia de esperar o ônibus. me calo com um sorriso besta no rosto, um sorriso mais úmido que o copo seco. a mesa silencia e perguntam qual o meu nome. calo a minha felicidade de não querer estar ali. de poder estar aí. respondo e novamente o barulho prossegue.

de 2010 para 2015

Tenho mais culhões que todos homens que conheço e sempre achei 'não' uma palavra patética. Prometi-me, porém, num passado não tão distante, que a lúxuria é uma peça removível. Segurar tantas mãos alheias deixou marcas entre meus dedos. Meus lábios já ressecaram e com eles, meu sorriso.
Não sacrificar a paz interna por prazeres momentâneos.
Onde, porém, os planos mudaram?
Quiçá, com aquele amor que já me soa tão antigo, no qual expeli naturalmente a única possibilidade que me permiti ter com a felicidade. Desejei pela primeira (e última) vez ser feliz, como todos querem. Lembro do meu choque e como tudo de repente pareceu uma idéia absurda e então simplesmente abandonei-a.
Desejo a felicidade cimentada no que sou, sob minha única influência, na forma de um sorriso egoísta.
Quais das verdades me pertence? Em que boca minha alma foi parar?