epílogo

hoje, minha mente se comportou como se comportava antigamente. é difícil pensar que já faz quase dez anos que escrevo e que grande parte das vezes que escrevi foi desse jeito, cansado e insone, no frio da madrugada.
minha atenção e compreensão me pregam peças e, quando vejo, estou fantasiando sobre uma festa aleatória que não fui há uns anos atrás ou lembrando de antigos poemas meus, os poucos que não se apagaram da memória.
e é assim que eu quero que eu volte a ser: aquele jovem magrelo, com olheiras das noites sonhadas no papel. quero ser esse sangue derramado em tinta preta, em mais um caderno que não terminarei.
como aquele, fatídico, que perdi na arquitetura, com meus melhores textos e rabiscos, que nunca poderei consultar. que me diria
"dorme, menino levado. dorme, que a vida já vem."

ciência política

nem tudo que escrevo aqui é verdade
meus ouvidos ouvem palavras minhas
    mentirosas
meus olhos revelam a verdade
    de meus olhos

então respeito
e deixo a caneta escrever
o que lhe vier
    à ponta
        da língua

yi jing

tento não pensar mais nela

não há criatividade no amor
    que sinto por ela

    não que possa ser transcrito
    no papel

e sim nas lágrimas
      nos abraços
      e no suor
          irrealizados

seis horas de solidão

    são mais do que suficientes
    pra mudar a vida de alguém

    pra criar ou apagar
    apertos no peito

    acelerar o coração
    dilatar as pupilas

    escrever um livro
    e sorrir

como um beijo em um quarto escuro

o tempo sempre acaba, transitando
entre cada comprimisso
      cada calendário

      como se mudanças previstas fossem as mais importantes