pousos e decolagens
o ruído do relógio
escondido nos rasantes de
avião
repete
o quanto o tempo
voou embora
com você
o ruído do relógio
escondido nos rasantes de
avião
repete
o quanto o tempo
voou embora
com você
Todos os passos ecoam em harmonia
um grito contra essa solidão
coletiva.
Todos comprimidos
dentro de um trem de ferro
comendo a terra sob outros passos
também ecoando em harmonia
um grito contra essa solidão
coletiva.
Todos os passos rumo ao mesmo objetivo
chegar
a
tempo.
Dentro de um tempo do outro,
criado pelo outro,
imposto pelo outro.
Todos os passos soando como caixa registradora
mais metro
menos tempo
mais garrafas de whisky
pra molhar a festa da empresa
coletiva.
Na terra do MUITO,
se contenta com
seu pouco.
Pelos exageros monocromáticos
de homens que sonham com o céu,
trafega com seu bucolismo,
suas vírgulas,
um despertar colorido
- bocejo, pingado, pão na chapa, augusta -
que toma rumo próprio
encharcando de vida
esse chão impermeável.
No meio do cimento
prensado e cinza,
seu grito de liberdade
em cada esquina.
o primeiro respiro
depois de um trago
é sempre o mais lindo
parece que a fumaça
a poluição
tem o efeito oposto
livre do vício
da vida
a música da harmônica
pode tocar novamente em meus ouvidos
como um preparo à passagem
do coração
que dá um tempo
e começa de novo
- tem fogo?
Minha caneta é pincel;
as palavras, as cores...
Versos são os seus castanhos
largados nesses fios do seu cabelo
por entre os olhos que me cegam.
Essa estrofe é sua pele bege
cadenciada pro moreno
espalhada pelo seu corpo:
escura
onde eu posso ver;
clara
onde eu queria poder ver.
Poemas se resumem em sua boca
que articula e expõe seu portão
livrando o não e trancafiando a saudade.
Poemas pintados de vermelho
se misturam em pontuação mal feita:
por vezes ponto final.
por vezes reticências...
O vermelho viabiliza o meu salto
irresponsável
flutuando com a ajuda dessa cor quente
assassinando a distância
entre a minha
e a sua
boca.