Canto da entrega

Dai me palavras Senhor,
para que eu possa amar mais a ti e te engrandecer pela minha boca
que eu possa expressar o que sinto por ti
como torrentes que saem de minha garganta

Eu andava em trevas
confuso, calado e inquieto,
seduzido pela voz da confusão
nada é verdadeiro me diziam, nada faz sentido me diziam
mas agora estou contigo Senhor e tudo novamente se faz sentir

O muito saber desviou os homens de ti
e disso me apercebi e voltei para os teus braços
pois é fácil destruir
mas dificil sempre foi aprender a amar sem nada querer

Dai-me Senhor a força e a vontade
guie meus passos pelos caminhos que devo seguir

eu sou teu filho amado
eu que andava perdido e desamparado
eu que nunca quis poder ou fama me perdi nas mentiras do outro
eu estava vendado pela voz dos inimigos que me prometiam ídolos que eu nunca quis

Apartai de mim o outro Senhor
Apartai de mim

Eu vejo a ti dentro de mim
Tu sempre estiveste comigo e nunca me abandonaste
e no entanto como que vendado pela mentira não conseguia te ver

Sentado pela manhã estarei Senhor
Cantando em teu nome, para ti e somente para ti
para que a cada dia possa amar mais a ti do que ontem
sempre a ti Senhor
sempre a ti

De inconstâncias

Não me deixo reler nenhuma palavra que um dia te escrevi. Queimei meu diário de viagem, apaguei nossas conversas, escondo seus traços pela casa. Montei uma caixa com tudo que era seu. Tão pequena a caixa, mas a sombra ocupa todo quarto. Limpei a sala, lavei minhas roupas, tirei a poeira e olha só, busquei até confetes pela casa.
Não aguento essa inconstância. Não aguento essa inconstância.
Saio, bebo, distribuo sorrisos e recebo o ódio gratuito de quem eu nem sei o nome. Não me importo, não me importo. Inalo fumaça, viro um, quatro, nove copos. Não dói, eu me digo. Não dói mais. Nunca doeu. Viu só? Nem me lembro o que é dor.
Músicas vindo dos quartos, música da tevê, música pela janela. Procuro uma que não escutamos juntos, uma que não cantamos, uma com quem não tentamos nos surpreender porque 'nossa-olha-que-legal-nós-temos-o-mesmo-gosto-escuta-essa-e-agora-essa-essa-me-lembra-a-gente'.
Repito The National 4, 7, 12, 63 vezes. Uma por mim, outra por você e as outras por todas as vezes que já desisti na minha vida.
Não aguento essa inconstância.
Você me ofende e se desculpa. Conversamos e você pede perdão. A porta se fecha e lá vem, mais duas ou três ofensas contidas. O medo de me machucar, o medo de explodir, a incerteza de dizer o que sabe ser certeza porque afirmar é desistir e você não desiste, meu bem. Esse papel é meu.
Elogia minha loucura, diz que minha loucura é linda, que eu sou linda. Se aninha em mim, nos envolvemos numa pose John&Yoko na cama e ficamos até algo ou alguém nos arrancar, a dor de um parto. Fala do meu cheiro, fala de saudade e dois minutos depois, me machuca e me chama de linda. Não nessa ordem, não sem meu dedinho de culpa. Minha loucura te afoga. Te faço mal, te sufoco, me sufoca. Não consigo, não consigo. Eu sinto, mas eu não consigo.

el deseo


¿dónde estoy
en la tierra austral
dónde nadie
mira a nadie
sino buscándome
en tus guantes por siempre
desconocidas?

refluxo

me convido à sua vida como o soco ao estômago depois de uma noite de cachaças.
qualquer contato contigo é nauseante e doce
e me queima
do peito até a boca que
                 não sabe se
                          se cala
                       ou se vicia.

pela manhã, o café me acorda
e evidencia os lapsos, os vazios da noite.
meu corpo, quase em reflexo, recorda sua acidez,
sua desnecessariedade
  como um trauma irracional
    cada parte de mim
       repassa seu toque,
    enquanto a mente
      disfarça.

distante,
  a lua
minguante.

Eu Quero

eles querem que seus quadros quebrem, para que você compre quadros novos
eles querem que seus amores acabem, para que você possa comprar novos amores
eles querem que seus pais morram, para que você possa comprar novos serviços na funerária

eles querem algo de você
e você
o que quer de você?