el deseo
en la tierra austral
dónde nadie
mira a nadie
sino buscándome
en tus guantes por siempre
desconocidas?
me convido à sua vida como o soco ao estômago depois de uma noite de cachaças.
qualquer contato contigo é nauseante e doce
e me queima
do peito até a boca que
não sabe se
se cala
ou se vicia.
pela manhã, o café me acorda
e evidencia os lapsos, os vazios da noite.
meu corpo, quase em reflexo, recorda sua acidez,
sua desnecessariedade
como um trauma irracional
cada parte de mim
repassa seu toque,
enquanto a mente
disfarça.
distante,
a lua
minguante.
eles querem que seus quadros quebrem, para que você compre quadros novos
eles querem que seus amores acabem, para que você possa comprar novos amores
eles querem que seus pais morram, para que você possa comprar novos serviços na funerária
eles querem algo de você
e você
o que quer de você?
Eu quero chorar e me sentir vivo novamente
sem dúvidas,
eu quero me sentir eu mesmo,
como nunca antes me senti na vida
Depois de perder o desejo por tudo,
a criança morre aos 20 poucos anos
e está pavimentado o caminho para tédios e seriados
Cadê você, luz da minha vida?
Cadê você, mentira que me faz feliz?
Na frequência do autismo momentâneo,
entre cafés e exames de sangue,
a paz se mostra como escravidão
sem montanha russa ou algodão
Eu sabia chorar...
agora já não lembro quando esqueci
Um dia tive fé e hoje há dúvida em meu coração
Entre o "aceitar resignado como deve ser"
e brincar com os brinquedos
eu prefiro joga-los em outras crianças
e ver o que acontece
era um menino vestido como eu me vestia aos quatorze. com a mesma paixão nos olhos, com a mesma confusão nos movimentos. e, como eu em minha virtude, visivelmente perdido entre o caos e os sentimentos.
projetei seu futuro como quem joga os búzios: aos dezesseis, amaria uma serpente; aos dezessete, aplicaria bêbado o que achava que aprendia nos filmes pornôs. aos vinte e um, realizaria que sua teimosia não é nada diferente da de seus pais. aos trinta e dois, pela primeira vez, entraria em pânico com o pensamento de que sua morte não é a mesma que leu na poesia.
veria que sonetos são antiquados, mas que há espaço na vida pro subjetivo, pro analógico. veria que sua vida é tão feliz e tão sofrida quanto a do outro, mas se sentiria ainda mais sozinho com isso.
seria gentil nos dias bons, seria áspero nos dias bons. teria dias bons.
devolvi o shakespeare pra prateleira de uma forma arbitratriamente barulhenta, mas não consegui alcançar seus olhos.