Interrogações, 4º movimento

Por que as estrelas se ausentam?
Ventam para outros olhares?
Lares a acolhem?
Escolhem as mais brilhantes?
Distante do vulgo?
Alugo o que enquanto me abandonam?
Desmoronam minhas inspirações?
Solidões encorpadas?
Nadas sofisticados?
Quadrados floridos?
Sorrisos terão coragem de abrir as cortinas sem peça?
Tropeça quem começa ensaiando?
Remando como Montaigne?
Quem dirá que a forma do mundo nunca se quebrará?
Levará quanto tempo o homem para se fragmentar?
Brincar de colar?
Preocupar-se em não mais se lembrar?
Colocar a cachoeira na beira do lar?

Interrogações, 3º movimento

Por que as águas da minha fonte se escondem?
Distorcem os lapsos de embriaguez?
Sensatez demasiada?
Manada de surdez?
Altivez da pequenez?
Estupidez moderna?
Lanterna ou vela me guiarão nessa caverna?
Morna jornada dirá Platão?
Dirão o que os outros sábios?
Lábios te darão as respostas?
Costas que caminham podem rimar?

Interrogações, 2º movimento

Por que nada vai além?
tem onde não cai?
Sai de quem as ciladas?

Interrogações, 1º movimento

Por que a alma beija seu espelho enquanto corre?
Escorre o seio vagando no museu da calma?
Ama o espanto que só escreve escondido?
Ungido é quem ainda ferve as mágoas no oceano?
Ano após ano em busca de um sempre que não anda?

calmaria

também existe música na agulha riscando o final de um disco sem parar. aprendi a ouví-la ao me manter concentrado em tudo aquilo que não importa. consciente da existência daquilo que não precisa ser notado. aprendi a fazer-me presente assim, ocupando os espaços de minha mente entre jogos bobos com o indiferente e viagens de ônibus por uma copacabana engarrafada. tentar prever o plano de vôo da fumaça que sobe do café; replicar com a caneta no papel o caminho do pingo do suor do copo gelado de cerveja a escorrer pela borda; sorrir para o moço do ônibus vizinho. nadas que fazem com que as palavras em minha cabeça se calem. nadas que falam comigo e me ensinam lições sobre ser vão. a fumaça se desfaz, o pingo seca ou cai, eu sigo. meus pensamentos silenciam nas mortes dos nadas e, como se servindo de alimento, deixam ressurgir palavras que foram ditas em épocas que também já viraram nada. palavras desesperadas como as propagandas de vendedores de peixe em final de feira. eu sigo para aprender que a inércia do vazio da vida é onde escuto o barulho que me basta. o barulho que invento.