bonde das poderosas

sou um poeta medíocre
- e quem não é?

negue se quiser
mas cada um tem seu lugar
e o meu é no meio
    da porrada
    da platéia

        assistindo o mundo
        das entranhas
        das máquinas de lavar

        enquanto você olha pra baixo
        sorrindo e sente aquele torcicolo
            recalcado

cachoeiras

por mais que eu me
concentre

    fecho os olhos
    apago as luzes
    silencio as mentes

        não consigo
como distinguir se

    esse som é
    do peito
        que ferve
    ou da água
        na pele?

Quero

o querer que mora num trago
que mora no aro
de lentes bifocais
focadas em desviar caminhos
para te enxergar por dentro

o trago que mora num quero
que mora no ego
de olhos vermelhos
denunciando planos e devaneios
de atalhos pela contramão

findado o tabaco
findada a mesa
findada a rua
fincado o cheiro nos dedos
        do querer
        do trago

Subliminar

Sorria, você está sendo filmado.
Atravesse na faixa.
Não pise na grama.
Fale ao motorista somente o indispensável.

Frases feitas
       soltas
       lidas
       esquecidas por nós.

Na asa do avião
dessa ponte aérea
  construída nuvem a nuvem por mim:
  - Não pise fora desta área.
                  deste coração.

sob seus pés

sua fé é tão grande que
    me machuca

sorria
    amor
sorria

    quando irá
    ver o
    abismo
        entre nós
        sob seus pés?