master blender
elas voltaram
as palavras voltaram
servidas por garçons que não conhecia
numa temperatura ambiente
em seu malte puro
com três cubos de gelo
e três sorrisos acompanhando
elas voltaram
as palavras voltaram
servidas por garçons que não conhecia
numa temperatura ambiente
em seu malte puro
com três cubos de gelo
e três sorrisos acompanhando
por um ano
te amo
durmo de conchinha
com você
solidão
beijos na nuca
afagos
coisa e tal
te amo sim
mas só por um ano
depois do carnaval
Trôpega Lapa,
sinto-me imerso dentro
desses corpos tortos
encontrando-me em mim mesmo.
Sonora Lapa,
você que já não rima mais
em nenhum samba canção
quando a luz do poste apaga.
Catedrática Lapa,
aprende-se física nas tuas ruas
na ação-reação do cassetete
para dois corpos ocupando o mesmo lugar.
Real Lapa,
toda sua poesia jogada, perdida.
Uma delas passa correndo
levando embora um celular e um encontro.
Viva Lapa,
essa que sempre furta
uma lapa de mim pela noite e a deixa
sob seus arcos feito oferenda.
Querida Lapa,
como é bom o reencontro,
como é bom estar em casa e
deitar na tua cama.
Todo dia
às zero horas
reaprendo a lição:
é fácil ser solar e
digerir o dia exposto
por aquela luz fertilizante,
astro rei de súditos mecânicos.
Agora, para a noite,
bem, para a noite é preciso ter
estômago e coragem,
é preciso saber enxergar na penumbra
os detalhes nus
onde para os olhos desavisados
só existe
o todo negro e escuro.
Para noite é preciso saber ler
nas entrelinhas.
Não vamos mais cantar
essas meninas utópicas e seus olhos azuis;
Não vamos mais cantar
as esquinas chiques de Ipanema;
Não vamos mais cantar
as solidões das sessões da tarde no Arteplex;
Não vamos mais cantar
a espera morna para a segunda-feira;
Não vamos mais cantar
bares abertos com público antes das sete;
Não vamos mais cantar
as mulheres rolantes de academias;
Não vamos mais cantar
ternos, gravatas e bravatas de advogados;
Não vamos mais cantar
o tempo que só faz ser contratempo;
Vamos cantar sim!
Só cantar
sem nem saber a próxima nota,
um ré sustenido,
a busca de um lá.
Vamos cantar como os mendigos
que fomos, somos e seremos
até a quarta-feira de cinzas.