o amor existe
e não há o que me convença do contrário
mas ele não é uma pessoa, nem um potencial,
não é tópico, trópico, nem tem um pingo de sexual.
ele existe
e se revela
como uma antiepifania que
em vez de se realizar pela repentina resposta genial
se materializa do ar ao você se propor
um momento de confusão
entre
onde termina você
e
começa todo o resto
(por favor,
entre)
se eu me deixar transparecer, me desculpa
é culpa
minha
juro que tento ser tão leve
como o sol nesse frio
seu casaco
que é quase um kimono
de pijama
eu acabo focando muito no que há de mal na vida
e perco o sorriso no desejo
de algo ruim acontecer
essa é a forma que tenho de me forçar
a reagir, me dá a mão
vamos anoitecer
acho
tão engraçado
quando o corpo
fala,
a alma
cala
e o tempo
para:
acho tão engraçado
quando o beijo
não une,
só separa.
uma estrela
só posso ver uma estrela no céu
a cidade
não me permite mais que isso
é no meio da noite nada mais
que um borrão,
um sorriso,
um desejo
hoje me despedi
do grande elefante branco
agarrei suas orelhas
abracei seu pescoço e
desfilamos pela avenida
acenando para a vida
pessoas a esperar o ônibus
não entenderam nada
vendo-me cair de costas
quebrar duas costelas e
por fim me por a chorar
de tanto gargalhar
ao perceber que no chão
só havia um pouco mais
de chão
de nada mais