estou nessa estrada de barro batido
sustentado por um par de chinelos já marrom
olhando para o resto do caminho
cogitando o que vem depois da curva
escondida pela praga surgida no pasto
com meu passo calmo a levantar poeira vermelha
com a delicadeza do respeito ao chão
ao lado
buzinas e motores
voam a se perder de vista
numa via expressa
seguem rumo a lugar nenhum
a atormentar
o canto do pássaro que eu ouvia
Vou nadar até ali,
encostar no quebra-mar
pra ver o pôr do sol,
guardando uma braçada
pra cada dia que nos trouxe
até esta praia
cheia de cascalhos
no lugar de areia fofa.
Vou sem pensar na volta,
contando com a câimbra
na batata da perna direita
para me afogar de vez.
Fazer-me virar manchete
para os jornalistas.
Fazer-me virar lenda
para os amantes.
era uma vez uma velha
e amável senhora
ela disse
filho,
você
tem uma aura dourada
vai ser alguém muito especial
eu não me preocupo com você
vá fazer sua arquitetura
e lembre que você é
sempre
mais do que o que você faz
a mágica dela era
tanto
eu quero tornar
ela
realidade
Um homem só.
Um avião só.
Um corpo só.
Um maquinário só.
Uma queda só.
Uma viagem só.
Um desencontro só.
Um encontro só.
Nós
a sós
pelo mesmo ar
então, ao ver alguém de seu passado na rua
admita
nossa, que saudade!
porque as rugas denunciam
a vontade de voltar